Em tempos tive uma amiga que se adorava perder.
Claro que isto a alguns pode parecer um desejo estúpido e infantil mas ela adorava perder-se em estradinhas de terra ou no meio do campo. Acho que e um vicio dos aventureiros.
No fundo todos nos ansiamos por perdermo-nos para que depois possamos vencer o desafio de encontrar o caminho de volta, ou pelo simples prazer de explorar o desconhecido, mesmo eu que abanava a cabeça como forma de disaproval secretamente também desejava perder-me.
Assim acho também que qualquer amante dos desportos motorizados todo o terreno adora atolar.
Quantas vezes já tentei atravessar e empurrar o limite do meu carro mais e mais longe na esperança de que algo “radical” acontecesse?
Quantas vezes mesmo tendo um caminho alternativo mais fácil ao lado fiz questão de fazer o mais difícil e com mais probabilidades de dar “mau” resultado…
A Bolívia e um pais de atolancos. Simplesmente perfeito.
A pista para o sul da amazónia, que nos tivemos de fazer porque todos os voos para a pequena cidade fluvial de Rurrenabaque no norte boliviano foram cancelados devido as chuvas intensas que se tem feito sentir por ca, e uma combinação de estrada de montanha, de planície e de pântano.
Tudo começa onde acaba a carretera de la muerte.
A nova estrada dos yungas acaba em Coroico e a partir dai tem de se seguir por uma estrada de terra em que a largura media não e maior que 3 metros, com escarpas e quedas verticais sempre do lado esquerdo de quem desce.
O sentido do transito e invariavelmente feito ao contrario, porque nas estradas de montanha guia-se pela esquerda para os que sobem estarem protegidos do lado de dentro da estrada.
Os cruzamentos com os camiões são feitos nos poucos sítios que a estrada alarga um mais de 3 metros, logo as paragens são regulares pois tem de se esperar nesses pedaços de estrada mais largos pelo carro, normalmente camião que vem em sentido contrario.
E comum para um novato como eu pensar que e desta que vai acontecer o inevitável, mas os pilotos passam buzinando descontraidamente como sinal de agradecimento.
O nosso piloto, don Luís e digno de fazer o Dakar. Conta-nos com a maior naturalidade que já “caiu” duas vezes mas teve sempre muita sorte.
O jipe não podia deixar de ser um Land Cruiser, o modelo VX de 5 portas de 89 o qual nunca tinha visto e assemelha-se com um HDJ 100. Motor V6 3 litros a gasolina.
Cor de vinho claro.
Na Bolívia confirma-se apesar de me desagradar a supremacia da Toyota em relação a Land Rover ou mesmo aos outros fabricantes nipónicos.
Só se vêem Toyota’s.
As quedas de agua que atravessam a estrada e com elas levam derrocadas massivas são comuns. Chegamos mesmo a ver uma série de Yungas (povo local das montanhas) a olhar para uma ribanceira. Don Luís informa-nos que caiu alguém mas nem se digna a parar.
Os camionistas são extremamente bem pagos por este trabalho, o próprio don Luís foi em tempos camionista mas agora já com carro próprio dedica-se a guiar turistas pelas mais difíceis estradas arrisco-me a dizer do planeta.
Quando passado 6 horas deste massacre chegamos ao sopé dos Andes Bolivianos, deparamo-nos com uma imensidão não de estrada mas de uma trialeira de barro vermelho a perder de vista alagada ao ponto de muitas vezes nem se puder sair do jipe.
As 3 da manha chegamos a uma piscina de terra com meia dúzia de camiões engolidos e com as rodas literalmente no ar apoiados por xulipas. Mais uma vez o Land Cruiser com as redutoras baixas ligadas não nos deixa ficar mal. Depois mais umas 4 horas numa pista mais rápida mas cheia de buracos, lombas e montes.
Notem que as nossas malas vão no suporte do tejadilho enroladas em serapilheira e imagino que ensopadas.
Somos 6 passageiros mais o condutor. Podem imaginar o bem e confortável que vamos.
Finalmente depois de quase15 horas de viagem la chegamos a rurrenabaque onde já nos aguarde outro land cruiser para nos levar a Sra. Rosa porto de saída para las Pampas. Mais uns pares de horas em bancos corridos, ( agora somos 6 mais um casal nórdico, a nossa cozinheira Candy naturalmente habituada e estas andanças e a responsável da agencia.
Mais uns atolancos, umas falhas de motor (este jipe estava completamente assassinado) uma falta de gasolina e la chegamos meio a pe meio de carro ao ancoradouro de Sta. Rosa.
A partir daqui só mesmo de lancha!
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